O dia 05 de maio foi instituído como o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. Data foi criada para alertar a população quanto os riscos à saúde causados pela automedicação
Diz o ditado popular que “de médico e louco todo mundo tem um pouco”. O dito, que resume bem uma prática corriqueira no nosso dia a dia, revela também um comportamento arriscado: a automedicação e o uso indiscriminado de medicações. Em uma enquete rápida nas nossas redes sociais, 61% dos respondentes afirmaram se automedicar.
Sendo assim, neste 05 de maio, Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, o Conass faz um alerta: apesar de bastante comum, a automedicação é perigosa, pode trazer sérios danos à saúde e até matar. Por isso mesmo, não é recomendada pelos profissionais de saúde.
No entanto, ainda que as autoridades sanitárias alertem para o perigo da automedicação, a prática ainda é corriqueira. Como no caso da advogada Raquel Del Rio, 40 anos. Ela admite que, em situações em que já houve prescrição médica anteriormente para determinado sintoma, não vê problemas em usar a medicação caso os sinta novamente. “Quando já houve prescrição anterior, não vejo necessidade alguma de gastar meu tempo indo ao médico”, disse.
Para ela, a prática não oferece riscos quando os sintomas são parecidos. “Ainda mais considerando que indo ao médico ele passará o mesmo tratamento. E mesmo que ele passe outro remédio, prefiro testar o de costume por entender que o organismo já medicado tem melhor resposta. Só usaria o novo medicamento, caso o anterior não tivesse sido eficaz”.O hábito da advogada se estende também à filha Rafaela de cinco anos. Ela confirma ter o hábito de medicar por conta própria a criança pois, segundo ela, as receitas dos médicos são sempre iguais. “Tosses e corizas, no caso da Rafaela que é alérgica, se persistirem por dois dias já entro com antialérgico e corticoide”, revelou.
Por sorte, Raquel disse nunca ter enfrentado intercorrências com o hábito, mas um estudo publicado em 2020 mostrou que mais da metade dos casos de intoxicação no País, entre os anos de 2010 e 2017, tiveram como agente tóxico mais frequente os medicamentos.
A pesquisa Caracterização do perfil das intoxicações medicamentosas por automedicação no Brasil, produzido por um grupo de farmacêuticos pesquisadores e publicado na revista Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento (Research, Society Development), mostrou que no período citado acima foram notificados 565.271 casos de intoxicação no Brasil. Os dados foram coletados no site do DataSus, a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Para chamar a atenção para o problema, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) lançou este ano uma Campanha pelo Uso Racional de Medicamentos onde alerta para os riscos da automedicação, principalmente com produtos emagrecedores. O objetivo é mostrar que qualquer produto ou medicamento pode provocar reações indesejadas, algumas delas graves, se forem utilizados sem indicação, de forma errada ou combinados com outras substâncias, sejam naturais, alimentos ou medicamentos.
O presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Walter Jorge João, citou ainda uma pesquisa realizada pelo Conselho, por meio do Instituto Datafolha que revelou uma porcentagem de quase 80% de pessoas que assumiram se automedicar. Dessas, quase metade se automedica pelo menos uma vez por mês e 1/4 o faz todo dia e pelo menos uma vez por semana.
Walter alertou para os efeitos adversos que medicamentos podem oferecer quando administrados de maneira errada, como hepatite tóxica (paracetamol), choque anafilático (dipirona), tonturas e visão turva (ibuprofeno) e destacou ainda que, com a pandemia da Covid-19, há também uma série de riscos mais graves ligados ao uso da cloroquina e da hidroxicloroina. “Segundo relatos que temos recebido há problemas na visão, arritmias cardíacas podendo até chegar a parada cardíaca, convulsões etc. O uso desses medicamentos deve ser feito com supervisão e prescrição médica”, concluiu.
A importância da orientação médica
O clínico geral do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI), Andrey de Araújo Lima, alertou para os perigos da automedicação e chamou a atenção para o aspecto social do problema. “Sabemos que dependendo da região do Brasil e da classe social do paciente pode ser bem difícil conseguir uma consulta e uma prescrição médica adequada. Nesse caso, as pessoas terminam recorrendo a automedicação”, disse.
O médico afirmou ainda que medicações bastante comuns e que aparentemente não fazem mal, quando mal indicadas ou tomadas em momento errado podem trazer graves prejuízos para o paciente. Ele citou as mais comuns utilizadas pelos pacientes sem orientação: anti-inflamatórios não-esteroides e corticóides. “Esses remédios que aparentemente são de baixo risco são muito consumidos sem prescrição. No entanto, como oferecem uma melhora rápida dos sintomas podem, por exemplo, camuflar uma infecção, além de baixar a imunidade da pessoa”, alertou.
De acordo com ele, os antibióticos sem indicação de um profissional também estão na lista de medicamentos utilizados com frequência, mesmo que para a sua compra seja exigida receita médica. “Infelizmente muitos pacientes ainda conseguem comprar esses remédios sem prescrição e isso pode, em muitos casos, induzir a uma resistência bacteriana, porque as bactérias e outros germes se adaptam à ação daqueles fármacos muitas vezes administrados com doses erradas”.
Andrey finalizou com um alerta para as pessoas que costumam se automedicar. “As vezes o paciente pensa que está economizando tempo e dinheiro em não procurar um médico e/ou hospital para as devidas orientações e prescrições medicas, mas muitas vezes essa automedicação pode trazer consequências graves e até mesmo fatais. Vemos muito no ambulatório de nefrologia, pacientes que fizeram uso crônico de medicações e tiveram lesões renais irreversíveis sendo necessário recorrer à hemodiálise”.
Conass e o URM
O Conass, por meio do assessor técnico e coordenador da Câmara Técnica de Assistência Farmacêutica (CTAF), Heber Dobis, participa ativamente do Comitê Nacional para Promoção do Uso Racional de Medicamentos (CNPURM). Instituído pelo Ministério da Saúde, o comitê tem o objetivo de orientar e propor ações, estratégias e atividades para a promoção do uso racional de medicamentos no âmbito da Política Nacional de Promoção da Saúde.
Dobis esclareceu que o crescente aumento no acesso a medicamentos no Brasil acarreta alguns desafios para os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), dentre eles, a necessidade de garantir o seu uso racional. “O Conass tem contribuído sistematicamente na construção das políticas de assistência farmacêutica com vistas à garantia da integralidade do tratamento medicamentoso de forma segura e eficaz, sobretudo por meio da participação neste comitê. Ter uma agenda ligada ao uso racional de medicamentos se torna cada vez mais fundamental”, explicou.
Outra linha de ação do Conass diz respeito às atividades da Câmara Técnica de Qualidade no Cuidado e Segurança do Paciente (CTQCSP) do Conass, coordenada pela assessora técnica, Carla Ulhoa. Ela falou sobre a parceria entre Conass, Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que, em alusão ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos têm atuado junto às secretarias estaduais de saúde no âmbito da CTQCSP e também da CTAF, na promoção de ações que foquem nessa linha de cuidado. “A terapia medicamentosa necessita de um cuidado especial a CTQCSP assume um papel importante, dentro de suas atribuições, inclusive, na execução de ações que promovam a segurança do paciente relacionadas ao uso de medicamentos”, disse a assessora.
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