A Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) prepara a 17ª edição do Congresso Brasileiro de Hansenologia, que acontece de 17 a 23 de setembro, em Cuiabá-MT. Este é o maior evento sobre o tema no Brasil e reunirá especialistas brasileiros e estrangeiros, além de movimentos sociais, organizações de Direitos Humanos e profissionais da Atenção Básica à Saúde. A hanseníase coloca o Brasil em 1º lugar no ranking mundial em taxa de detecção – o país é o que mais diagnostica novos casos da doença a cada 10 mil habitantes – e em 2º lugar em números absolutos de casos, atrás da Índia. O Brasil também diagnostica mais de 90% dos casos de hanseníase nas Américas.
A hanseníase integra a lista das 20 doenças tropicais negligenciadas da OMS. É diagnosticada tardiamente, em estágio avançado, o Brasil registra índice preocupante de hanseníase em menores de 15 anos, o que é um indicador epidemiológico de que o bacilo está circulando entre parentes, escolas e vizinhança, e também é preocupante o número de profissionais afastados temporária ou permanentemente de suas carreiras por sequelas da doença. Pacientes e familiares ainda sofrem preconceito – a SBH entregou um documento com mais de 40 páginas às Nações Unidas listando todos os tipos de preconceito conhecidos no país contra as pessoas afetadas pela doença, dentre eles, crianças tiradas da escola, pais afastados do trabalho e de suas famílias e mesmo editais que proíbem participação de pacientes ou ex-pacientes. Uma vez iniciado o tratamento, a doença não é mais transmitida.
Por causa deste cenário, o congresso da SBH reúne médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, pesquisadores, secretários e gestores de Saúde, estudantes, professores, advogados, historiadores, agentes comunitários de saúde, ongs etc., com objetivo de aprimorar, capacitar e atualizar os recursos humanos envolvidos com a hanseníase, além de divulgar ações e experiências exitosas que visam ao diagnóstico precoce, tratamento, reabilitação física e a proteção social das pessoas atingidas pela hanseníase.
“Paciente e médicos convivem com os problemas que surgem da dificuldade no diagnóstico e acompanhamento de casos, falta de estrutura e capacitação para identificar, classificar e definir tratamento e, ainda, dificuldade de abordagem dos contatos de pacientes de hanseníase. Depois disso, o paciente ainda tem de passar pelos processos de reabilitação por causa das sequelas e inclusão. Por isso, este é um congresso multidisciplinar, com grande abrangência para a área social e uma aproximação importante da academia com a comunidade”, diz o presidente da SBH, Marco Andrey Cipriani Frade.
Hanseníase
É provocada por um bacilo – Mycobacterium leprae ou Bacilo de Hansen – que causa inflamação nos nervos. O tema do congresso deste ano, aliás, é “150 anos da descoberta do Mycobacterium leprae”.
O bacilo cresce lentamente e o paciente começa a sentir formigamentos, fisgadas e dores pelo corpo, os nervos ficam espessados pela inflamação e, com o tempo, o doente pode ter diminuição da sensibilidade em algumas áreas do corpo. Nessa fase, a pessoa pode machucar-se e não sentir dor ou perceber pouca dor. Em alguns anos, com o diagnóstico tardio e a evolução da doença, várias regiões do corpo podem perder totalmente a sensibilidade.
O diagnóstico é clínico – no consultório, o médico faz testes na pele com fios de nylon de diferentes espessuras e peso para testar se há diminuição de sensibilidade, faz palpação de nervos para conferir se estão espessados e inflamados, além de outras avaliações.
A hanseníase tem tratamento gratuito em todo o Brasil e tem cura. Por ser uma doença negligenciada, esquecida nas universidades e por muitos profissionais de saúde, a hanseníase é, muitas vezes, diagnosticada erroneamente, os pacientes passam anos tratando de artrite, artrose e várias outras doenças, enquanto vivenciam piora de seu estado geral de saúde. Por afetar os nervos, muitos são internados com suspeita de infarto; por provocar caroços sob a pele, outros são diagnosticados com acne tardia.
Para mudar este quadro, a SBH tem trabalhado para ampliar o número de hansenólogos no país. O congresso apresentará os trabalhos da primeira turma do Curso de Especialização em Hansenologia, em sessão pública, dia 18, às 8h. Depois de 40 anos, o Brasil volta a oferecer a especialização em parceria entre SBH, Secretaria Estadual da Saúde do Mato Grosso/Escola de Saúde Pública. No mesmo dia, às 18h, será lançada a segunda turma de especialização. No dia 20, será feito o Exame de Suficiência para a obtenção do Certificado de Área de Atuação em Hansenologia, com certificação pela AMB-Associação Médica Brasileira e SBH para médicos dermatologistas, infectologistas, de medicina de família e comunidade e medicina do trabalho.
AGENDA
17º Congresso Brasileiro de Hansenologia
Data: 17 a 23 setembro
Local: Deville Hotel, Cuiabá-MTInformações: www.sbhansenologia.com.br
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Mauro Marinho assessoria de imprensa Texto & Comunicação