As Casas de Passagem disponíveis em Rio Branco para receber pacientes durante o Tratamento de Saúde Fora do Domicílio (TFD) realizam um trabalho digno de reconhecimento, embora poucos saibam que existe. Exemplo delas é a Casa de Passagem do Conjunto Universitário, que funciona desde 2008 e é mantida pelo governo do Estado, por meio de um convênio com a Central de Articulação das Entidades de Saúde (Cades).
Trata-se de trabalho que vai além de um simples acolhimento. Assim pode ser definido o compromisso dos funcionários e agentes de apoio que acompanham temporariamente as pessoas que vêm do interior do estado em situações adversas. Para garantir a estadia dos pacientes, o TFD dos municípios entra em contato com a instituição para encaminhá-los até a capital.
A Casa de Passagem atua como facilitadora para os pacientes, com o objetivo de que eles tenham acesso aos serviços de saúde e mantenham-se disponíveis a concluir o tratamento. Isso porque a maioria chega até aqui sem um destino sequer, por não possuírem parentes na capital.
As dificuldades são muitas e vêm na bagagem. São comuns a todos os pacientes que já chegam desmotivados às Casas: saber que existe uma doença a ser combatida, o coração apertado por deixarem para trás suas famílias, a falta de previsão de retorno para casa e a necessidade de não desistir do tratamento.
Dona Dulcinéia Ribeiro é uma das pacientes acolhidas pela Casa. De Feijó, ela chegou em Rio Branco no final de fevereiro para tratar de um problema de mioma. “Estou aguardando a minha próxima consulta para ver se a médica vai me liberar ou não; se ainda der problemas, tenho que voltar em seis meses. É uma garantia ter esse lugar aqui porque não conheço ninguém na cidade”, diz.
O caso de Claudiomar Vieira é raro. Ele foi diagnosticado com uma doença típica de regiões tropicais, a de Jorge Lobo. Trata-se de uma espécie de micose profunda, que causa lesões na pele e é pouco conhecida. Os pacientes detectados com a patologia em estágio avançado são submetidos a um tratamento delicado e, por vezes, encaminhados para fora do estado. “Esse já é o meu retorno, no ano passado estive aqui por 50 dias. Vim de Cruzeiro do Sul sozinho, é muito bom saber que posso contar com o apoio dos funcionários da Casa porque aqui todo mundo é bem recebido e a gente faz amigos”, afirma.
Maria Isa de Lima é de Tarauacá e está em Rio Branco há três meses. Teve bebê aqui e contou com a ajuda da Casa e da comunidade para montar o enxoval. “Eu estou aqui há três meses e ainda não tenho previsão de volta pra casa, mas só tenho a agradecer a todo mundo por terem tido muita atenção comigo e minha família”, frisou a paciente, que luta contra um câncer no útero.
O estado emocional dos pacientes é o ponto de partida do trabalho realizado pela Casa de Passagem, que oferece não apenas um lugar de permanência provisória, mas um suporte que garante o mínimo de conforto e qualidade a todos eles. “Nós contamos no momento com 13 funcionários para atender uma média de 40 pessoas, entre pacientes e acompanhantes que ficam de um a três meses na maioria das vezes. Cuidamos deles desde a entrada na Casa de Passagem até a volta para o domicílio, aqui eles não precisam custear absolutamente nada e têm inclusive transporte pra levar e trazer das unidades de saúde. Além disso, são acompanhados por um funcionário que cuida até dos agendamentos de exames e consultas. Nossa intenção é acolher sempre da melhor maneira possível”, explica a coordenadora Raquel Mesquita.
Para entreter os pacientes, atividades externas são realizadas, além das terapias ocupacionais. “Pensando no bem-estar deles, buscamos sempre levá-los a passeios, realizamos palestras educativas e recebemos visitas de grupos religiosos”, acrescentou.
Diariamente, a terapeuta Suely Lyra ensina técnicas de reciclagem, bordado, crochê e outras atividades que oferecem possibilidades de renda. “Comecei aqui como voluntária porque sempre amei fazer isso. Hoje como terapeuta procuro fazer com que os hóspedes da Casa se envolvam nisso, afinal, eles podem encontrar nesse aprendizado uma oportunidade de renda. Também realizamos brechós para motivá-los e recebemos inclusive doações de materiais para a produção de artesanato”, afirma.
Elias Oliveira é acompanhante do pai, que faz tratamento nos rins desde o ano 2009 na capital. Para manter a mente ocupada, conta que gosta de participar da terapia ocupacional, enquanto confecciona um cachecol. “Isso me ajuda a passar o tempo e eu gosto muito. Já aprendi a fazer muita coisa e faço pra colaborar com o brechó, eles expõem as peças e vendem”, diz.
Durante as quintas-feiras, os pacientes são levados à hortoterapia, com o apoio da empresária Zú Oliveira. São assistidos enquanto cuidam da horta, localizada na Estrada da Floresta. Eles mesmos colhem as verduras, que são doadas semanalmente para ajudar na alimentação.
Também existem Casas de Passagem localizadas nos bairros Taquari e Tangará. Para garantir o sucesso das instituições, há um pensamento de equipe e esforço contínuo por parte dos profissionais, um trabalho em corrente que no final ajuda a devolver o sorriso e a esperança a alguém.
Por Rayele Barbosa
Foto: Angela Peres/Secom