Rebeca Alencar/Sesau
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e o Conselho Regional de Medicina (CRM) alertam para os riscos de cirurgias estéticas realizadas no exterior. Na última semana, duas pacientes deram entrada no Hospital Geral de Roraima (HGR) com complicações pós-operatória. As duas haviam colocado próteses de silicone nas mamas em clínicas em um país vizinho.
Nos últimos anos, as cirurgias plásticas deixaram de ser coisa de mulheres ricas e se popularizaram. Apesar de o Brasil ser referência no assunto, constantemente, brasileiras são atraídas pelo baixo custo das cirurgias plásticas feitas nos países vizinhos. Preocupadas apenas com a estética, elas se arriscam. Foi o caso de uma das pacientes internada, na última semana, no HGR, que preferiu não se identificar e, por isso, será chamada de Ana.
Ana decidiu realizar um sonho, o de por silicone nas mamas. Influenciada pelas amigas de salão, decidiu transformar o sonho em realidade, e atravessou a fronteira. Segundo Ana, há facilidade para quem mora em Roraima e quer se submeter ao procedimento país vizinho. Há quem organize esse tipo de turismo em salões de beleza. O pacote inclui hospedagem, procedimento e passagens. “Procurei uma das donas de salão, mas achei o serviço caro. Aí, decidi ir por conta própria”, relata.
Ana conseguiu a cirurgia por um baixo custo. Não demorou muito para ela descobrir que os riscos são altos. Quem a atendeu, tratou o procedimento como algo corriqueiro. A paciente chegou na clínica de manhã para consulta e saiu do ambulatório com a cirurgia agendada para 15 horas do mesmo dia.
O cirurgião Márcio Arcoverde, delegado regional da Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas (SBCP), explica que cirurgias rápidas são feitas em situações de emergências. “É importante que seja estabelecida uma relação de confiança entre médico e paciente”. Segundo ele, o ideal é seguir as recomendações médicas do pré-operatório para o dia da cirurgia, como entrega dos exames. Isso leva tempo. A internação tem de ocorrer em hospital credenciado e reconhecido. A unidade tem de apresentar estrutura necessária para dar suporte em casos de complicações. Por isso, é necessário analisar o local onde será feito o procedimento. Ana passou por todas as etapas em único local.
Ana retornou ao Brasil cinco dias após os implantes. Um risco. Hemorragia, trombose, embolias e hematomas são algumas complicações que podem ocorrer durante o deslocamento. Independente do trajeto, inúmeros problemas podem surgir, seja para quem retorna via terrestre ou aérea. Além disso, Arcoverde ressalta que o procedimento não acaba no último ponto. “O fim do ato cirúrgico não está isento de complicações”. Hoje, Ana sabe disso.
Oito dias após o implante, Ana deu entrada na emergência do Pronto Atendimento Francisco Elesbão com infecção. A prótese estava exposta e parte da mama inflamada. Os médicos da unidade a avaliaram e informaram que a outra prótese também estava comprometida e teria de ser retirada. Ana, que havia recebido a garantia do cirurgião de que o implante seria permanente, teve de retirá-lo imediatamente. “Fui em busca de melhorar minha autoestima e voltei com um pesadelo”, lamenta.
Ana não poderá repor as próteses pelo Estado, pois o SUS não cobre cirurgias estéticas. “Por enquanto, não penso em passar por mais nenhuma cirurgia estética, nem mesmo para reparar a deformidade que ficou em meus seios. Vou tentar ser feliz como sou”, afirma.
De acordo com presidente do CRM, Wirlande da Luz, quem opta por fazer a cirurgia plástica no Brasil tem a garantia de que há um controle da Vigilância Sanitária (Visa) sobre as próteses que serão utilizadas. “Hoje, os profissionais daqui estão corrigindo complicações de procedimentos feitos fora do Brasil”, relata.
Há bons profissionais, seja no Brasil ou exterior. As pessoas têm de ter mais cuidado. A recomendação é buscar referências sobre o profissional. No Brasil, a SBCP disponibiliza os dados de todos os cirurgiões plásticos cadastrados e atuantes. Além disso, a pessoa pode entrar em contato com o CRM para verificar se o médico realmente é especialista na área que irá atuar. Encontrar informações sobre os profissionais de outro país é uma tarefa difícil, mas não impossível. “Não tive essa preocupação. Só resolvi fazer a pesquisa depois que os problemas pós-cirúrgico apareceram. Digitei o nome do médico e da clínica na internet. Não encontrei nada”, conta Ana.
Segundo Arcoverde, devido à informalidade, não há estatísticas oficiais referentes ao número de cirurgias realizadas em outros países. Sabe-se, ainda, que há procedimentos realizados em salões de beleza, outra forma de realizar cirurgias informais. Para não caírem nas armadilhas de pessoas mal intencionadas, aqui cabe o conselho do ditado popular: quando a esmola é grande, o santo desconfia. Por isso, mais do que se preocupar com a beleza, as pessoas devem levar a saúde mais a sério, pois brincar com ela, é correr um risco desnecessário.
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